terça-feira, 18 de maio de 2010

Amar dá trabalho!


Existem receitas para um relacionamento perfeito?

Namorar !!! Ah! Como a fase da paixão é lembrada em prosa e verso... Em fotos e fatos contados e repetidos...

Mas, por que a paixão não sobrevive ao namoro? Se sobreviver, é consistente apenas nos primeiros anos de casamento. Porquê ? No namoro, o namorado ou namorada é escolhido pois vem de mundos diferentes.

Parentes, não! Avô, avó, pai, mãe, irmãos, filhos... A gente não escolhe, já se nasce no sistema. Parceria não! É escolhida a dedo! É o "click que deu no coração", é o "jeito diferente" é o que "bateu forte" (por mais que eu prefira o verbo "tocar" forte)... É a tal da "química que funcionou". Temos mil explicações e isto não importa muito. O que importa é, que como é escolha, exige cuidado, exige da pessoa DEDICAÇÃO, e esta talvez seja a diferença. Depois de dez anos de relacionamento, de casamento diário, trocamos a palavra DEDICAÇÃO pela palavra SACRIFÍCIO. Por que? Por que matamos o amor? O que homens e mulheres exercitam um casamento que mata a paixão?

Na verdade, quando nos LIGAMOS a alguém, deveríamos começar um novo movimento, e fazemos exatamente o oposto: nos ACOMODAMOS. A própria palavra LIGAR significa, entre outras coisas, "fazer girar, pôr em comunicação, prestar atenção, juntar novamente, tentar estabelecer comunicação" (vide Aurélio), Mas, na realidade, usamos esta palavra com outro propósito: desligar, relaxar! "Não preciso mais ter trabalho, já conquistei! Está pronto!" Ou seja, o que deveria ser um momento de renovar, introduzir movimento e andar para frente, se transforma em uma desculpa para acomodação e o relacionamento fica onde está.

Nos tempos do namoro, o namorado é repleto de atenção e dedicação à mulher escolhida. E a namorada então? Quer ser bela para o seu amado: apronta-se sempre para espera - lo com o perfume que ele gosta, usa roupas na cor que o agrada, é toda carinho só para o seu amor. A família é a rotina de cada um, mas o outro é especial! O outro é diferente de tudo que cada um viveu!
Aí quando se casam, logo já começa a acontecer o contrário: o outro vira a rotina, a mesmice, o cotidiano. E a família, que agora se torna mais distante, se torna o especial, o novo, o diferente...

Por aí, já começa a confusão. Não existe mais perfumes, nem roupas, nem atenção, nem TEMPO e são poucos carinhos. Os diálogos, com o passar do tempo, só acontecem entre um "plim-plim ou outro da Globo". Os assuntos, pior ainda: giram em torno dos filhos, dos problemas, dos problemas dos outros, de doenças etc, etc.

Existem casais que "tentam", e como alternativa têm um dia da semana só para dois. "Sexta-feira é nosso dia de namorar, saímos sem filhos!" Na verdade, saem sem filhos mesmo, mas "empencados" de amigos. E, o que é pior, se saem sozinhos, acreditam que um com o outro "não tem graça, não temos muito assunto!" Alguns casais vivem em pânico quando surge a oportunidade de uma viagem a dois. Logo se encarregam de combinar com amigos para irem juntos, "pois assim ficará mais interessante". Qual o problema? Penso que pessoas que se amam e escolhem estar juntas, devam ser boas companhias entre si. Ter amigos é bom saudável, mas estar só com outro deveria ser bom também.

O complicador é que o ser humano acomoda-se muito fácil. Isto tudo acontece porque permitimos, acostumamos. Temos "preguiça" de ter trabalho com a relação, com o casamento, com o outro. Afinal, já casamos, não está pronto? Não é preciso fazer mais nada.

Esquecemos que tudo na vida tem um desgaste natural: as construções, mesmo fechadas, se estragam; roupas guardadas, mesmo sem uso, ficam velhas. Assim também é o amor: a relação tem um desgaste natural. Precisamos reciclar a relação. É não é apenas em uma sexta-feira à noite...Estou falando de almas e corpos vestidos para se encontrar, para se CONHECER e se RE-DESCOBRIR novamente. Isto necessita de um certo tempo. Precisamos entender que se quisermos saúde, devemos cuidar de nós mesmos, cuidar do outro e cuidar da relação. Sempre. É sairmos da palavra sacrifício, que sempre sugere fazer força, para voltar a palavra dedicação!

Tudo isto dá trabalho. O amor, a relação a dois é trabalhosa, mas como diz Fernando Pessoa "Quem pode a criatura, senão entre criaturas amar?" E completaria: "Tentar ser feliz?"


Texto criado por Rozália R. N. Campolina
Psicóloga clínica - Terapeuta de casais e família
Diretora do CEAPS (Centro de Estudos e Atendimento Psicoterápico Social e Sistêmico)
Especialista em Violência Doméstica Contra Criança e Adolescente pela USP –SP
Membro titular da AMITEF (Associação Mineira de Terapia de Família)
Membro titular da ABRATEF (Associação Brasileira de Terapia Familiar)



Post: Laila Lopes

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